Thursday, February 20, 2014

Eu fui à Igreja...

19 de Fevereiro de 2014, dia do meu aniversário, foi a primeira vez que entrei numa igreja por livre e espontânea vontade, sem ser em baptizados, casamentos, funerais/velórios, nunca tinha ido a uma igreja, e muito menos sozinho, como foi o caso. Tão pouco pode-se dizer que sou uma pessoa religiosa, não sou propriamente um católico, nem um pagão, nem um ateu, sou o tipo de pessoa que acha que o ser humano é demasiado imbecil para ser a força suprema existente na Terra, só isso...

Para começar, o meu dia de aniversário não é um bom dia para mim, desde a morte do meu avô em 2004, sendo o meu avô a pessoa que eu mais gostava da minha família, praticamente de alguma maneira nunca mais fui o mesmo desde 19 de Fevereiro de 2004, o resto da minha família tenta disfarçar a dor que é esse dia com o facto de ser o meu aniversário, os meus amigos dizem que é lixado mas que não posso deixar de comemorar o meu aniversário apesar desse acontecimento infeliz, opiniões à parte e cada um tem direito à sua, mas o mais importante no meio disto tudo sou eu, ou melhor, como eu me sinto, e a verdade é que não sou uma pessoa hipócrita, não vou comemorar algo com um sorriso falso de lés a lés só para agradar aos outros, eu não tenho razões para comemorar o meu aniversário, não me sinto bem em festejar o que quer que seja nesse dia, é um dia emocionalmente muito conflituoso para mim. Não tenho nada contra quem festeja aniversários, acho que fazem muito bem, mas no meu caso em particular não tenho razões para tal, infelizmente parece que ninguém compreende a minha razão de ser assim no meu aniversário, mas como se costuma dizer: uma coisa é ouvir, outra é sentir na pele. Espero muito sinceramente que as pessoas que eu gosto não sofram o mesmo que eu sofri (e sofro) no seu dia de aniversário, gosto que me dêem razão, mas certos fins não justificam os meios. Gosto que as pessoas se lembrem de mim e me dêem os Parabéns, é sempre bom saber que se lembraram de nós, mas festarolas, jantar fora, copos e afins, no dia 19 de Fevereiro não, nem pensar, é um dia de luto e não de festejo para mim.

Triste com tudo o que me tem acontecido nos últimos meses, estava uma tarde ensolarada, decidi pegar no carro sozinho e fui até Alverca beber um café, o café ficava perto de uma igreja e deu-me na telha ir à igreja, precisava de estar sozinho e em silêncio, mais que isso, precisava de um sítio onde pudesse sofrer psicologicamente em paz, sem ter de disfarçar, sem ter de ouvir observações, sem ser julgado por quem quer que seja, e que sítio melhor do que uma igreja para isso?

Eu ao entrar na igreja lembrei-me que não faço a mínima ideia como se reza, ou como se ora, portanto eu digo que fui lá manifestar os meus votos, nunca li a Bíblia na minha vida, não conheço nenhuma oração, não faço a mínima ideia como "proceder" numa igreja, portanto apenas sentei-me, esfreguei as mãos uma na outra e comecei a pensar alto tudo o que me ia na cabeça, sentia que tinha mil toneladas em cima da cabeça, era um ambiente pesado mas ao mesmo tempo extremamente sossegado.

Lembro-me que fiz votos pelo meu avô, pela mãe da minha ex-namorada (também faleceu num 19 de Fevereiro, à dois anos), pela minha ex-namorada (sim, pela minha ex, apesar de ser a ex eu gosto dela e desejarei sempre que as coisas lhe corram bem), e finalmente, por mim, por nunca me sentir tão perdido e desorientado na minha vida como agora, perder o emprego, perder amigos, perder a namorada e a memória do fatídico dia 19 de Fevereiro de 2004, é algo que me arrasa totalmente, psicologicamente prega-me ao chão com uma enorme violência, são muitas coisas más em pouco tempo, talvez mais do que consigo aguentar, tenho-me agarrado muito ao álcool no último mês, como forma de tentar escapar a tudo isto, é verdade que não resolve problemas, mas fazer algo parece sempre melhor do que não fazer nada, certo?

Quando "caí na real" estava a ouvir fecharem as portas, eram 17h e eu estava lá dentro à meia hora, fiz algo diferente e não me arrependo de o ter feito, talvez aquela igreja seja o meu "muro das lamentações", onde possa lamentar ou o que quer que seja em paz, sem comentários ou julgamentos.

Não contei isto a ninguém, não queria que soubessem deste meu acto, digamos que se perguntarem às pessoas que me conhecem qual os sítios mais improváveis de eu estar, não se admirem de ouvir "numa igreja"...

Lembro-me de uma frase de uma professora do secundário que disse que no fim, depois de todos os assuntos, no "fim da linha", na hora da necessidade, tudo vai parar à religião. Talvez tenha razão, afinal de contas eu entrei numa igreja por me sentir perdido e desorientado, e nunca fui um tipo religioso, aliás sempre abominei a institucionalização das religiões como forma de manipulação de massas, mas também sempre defendi que a fé é algo pessoal e não colectiva.

Por fim, resta-me dizer que não espero milagres nem intervenções divinas, apenas esperança que as coisas comecem a correr melhor na minha vida.

"Ainda que eu andasse pelo vale da sombra e da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo, a tua vara e o teu cajado me consolam."
          Salmo 23:4