Tuesday, February 26, 2013

"Só se vive uma vida, e da maneira que eu vivo, uma vez é suficiente." - Frank Sinatra

A famosa citação do título é da autoria de uma lenda, Frank Sinatra, uma pessoa que admiro tanto pelo seu talento musical como pelo seu estilo de vida bon vivant, mas não criei este post para escrever sobre Sinatra (a sua reputação dispensa quaisquer apresentações), mas sim sobre a sua frase, o seu sentido na vida digamos assim.

Sempre me questionei, graças a essa famosa frase do Frankie, quantas pessoas poderão realmente dizer o mesmo? Quantas pessoas no Mundo podem afirmar o mesmo que Sinatra? Sem qualquer dúvida ou hesitação? Que se sentem realizadas, que viveram uma vida plena, tão plena que o seu estado de graça em relação à vida que levaram é algo realmente invejável. Quantas? Será Sinatra o único? Não creio...

Será que para nos sentirmos realizados de forma a podermos afirmar o mesmo que Sinatra tenhamos de ser uns fora de série da sociedade actual? Temos de ser Cruzados dos tempos modernos à procura de fama e glória através de algum dom concedido pela natureza? Bom, essa parece-me ser o caminho mais "fácil" de atingir o expoente máximo, ao nível de semi-Deuses na Terra como foi Sinatra e mais uns quantos.

Voltando aos meros mortais, olhando para a minha geração, para a sua mentalidade, questiono-me: que faz esta gente na vida para poder dizer o mesmo que Sinatra? E só me vem à cabeça: NADA! ZERO!
A minha geração, nascida na segunda metade da década de 80 e inícios de 90, os últimos de uma geração nascida num tempo louco, são o oposto do tempo em que nasceram, são na sua maioria pessoas cujo conceito de sair à noite é sentarem-se numa mesa com os mesmos amigos que conhecem à 10 anos, estão casados aos 25 anos e a viver juntos com a pessoa (a típica procura do conforto tradicional) numa casa que a única garantia que dá é uma dívida para os próximos 40 anos ou mais, não têm interesse em conhecer pessoas novas e criar experiências novas, perderam a "revolta da juventude", querem ser adultos antes do tempo, a ideia outrora cliché da juventude de "beijar um/a estranho/a na noite" é agora considerado um acto de liberalismo negativo, era louvado no tempo de Sinatra, e é criticado no nosso, será o modernismo sinónimo de evolução? Segundo Nietzsche não, e eu também acho que não.
Que aconteceu à juventude louca? Que não queria responsabilidades enquanto jovem? Que procurava divertir-se ao máximo com toda a gente? Que aconteceu aos cruzados de fama e glória dos tempos modernos? Que dizer quando o sucesso vem ter com eles, e eles rejeitam o sucesso porque "estão bem, estão confortáveis" com o que têm, quando noutros tempos tinha-se de lutar duramente para se ter sucesso? Qual o trauma de arriscar dos tempos modernos? A ponto de rejeitarem o sucesso mesmo quando vem ter com eles? Seja em forma de um aperto de mão, um belo decote ou um bom cheque ao fim do mês em circunstâncias diferentes das actuais? Como é possível que uma geração maioritariamente nascida na década de 80 seja o extremo oposto do tempo em que nasceram?

Se Sinatra tivesse nascido nos anos 80, será que o conheceríamos como conhecemos? Claro que não, até poderia vingar no mundo da música com o seu inquestionável talento, mas nunca o veríamos como um modelo de vida, um gentleman para as ladies com o seu Cadillac, como um bon vivant, e porquê? Porque simplesmente a sociedade moderna não tem esta cultura, de arriscar, de divertir, de aproveitar as coisas no seu devido tempo, do live fast die young.

E é nesta mentalidade atípica que se concentra a maior parte da minha geração, uma geração desinteressante, aborrecida, azeiteira, que não se procura divertir.

Felizmente, nem toda a gente é assim, conheço pessoalmente alguns casos, eu nunca me considerei um cruzado à procura de fama e glória, mas se dissesse que não procuro realização pessoal e diversão, estaria a mentir com todos os dentes (ou com todas as teclas), não penso em conforto e estabilização antes de me sentir "realizado", aquele ponto em que dizemos "fiz o que tinha a fazer, diverti-me o que tinha a divertir-me, atingi o ponto de saturação, está na altura de dar o próximo passo", e pouco importa se isto é aos 25 anos, aos 30, aos 40 ou aos 50.

O que mais importa é no fim, podermos afirmar o mesmo que Sinatra, quando se atinge esse nível, valeu a pena a vida que levou, se uma pessoa "arruma as botas" antes de pessoalmente poder afirmar o mesmo que Sinatra, a única coisa que conseguiu foi conforto na resignação e estabilização na insatisfação.

Quanto a mim, que sou um dos que nem ousa dizer metade da frase de Sinatra, continuarei a lutar para fazer por isso, até me "encher as medidas" e sentir-me pleno nessa satisfação, e enquanto isso não acontecer, nunca irei meter a carroça à frente dos bois, mesmo nesta sociedade bastarda da cultura de outros tempos.